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Piano velho


#ficaadica: Ler esse texto escutando Clair de Lune - Debussy





É como uma nota do som que o piano toca. Eu costumava ouvir ao entardecer de cada ser e cada piscada entre os cílios dos olhos que olhavam para o nada. Uma nota triste, que me leva de volta para quem eu já fui. De volta para quem nós fomos. Dançávamos como se a música não tivesse fim, como se o vinho não tivesse gosto, como se fossemos uma fagulha divina, livre, sem culpa, sem alma. Muitas palavras perdidas que me custo lembrar, imagens num porta retrato velho, me lembra o antigo mundo, contato nas telas de cinema e nas fotos em preto e branco. Talvez o amor era para todos, talvez meu amor não fosse de ninguém. Eu costurava na minha pele, pequenas gotas de suor que caiam por cada esforço de fingir um tempo que eu não tinha. Ou que não queria ter? O abraço dos braços enrugados tinha calor, cheiro de mel e um borrão de história bem vivida. Sozinha em mim, eu já não escuto mais a nota do piano, o vinho completa a taça, e apenas o silêncio me lembra de quem eu realmente sou. Eu não sei mais, se quero as mesmas notas do piano velho, que apagou o meu novo eu.


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