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Desconexões


#ficaadica: Ler esse texto escutando Cant Take My Eyes Off Of You - Reneé Dominique




A música que tocava era “ Can’t Take My Eyes Off You” num ritmo acústico. Por um segundo ela desviou o pensamento da conversa. Que versão legal! Mas antes de começar a comer, ela tirou uma foto do pedaço de bolo e do sedutor café gelado. Três ângulos diferentes, e a melhor foto, ela postou no story. De volta para a conversa, ela olhou para a amiga, que estava com os olhos vermelhos de chorar.


-Eu não sei mais o que fazer. Eu juro, que chega um momento, que ficamos tão cansadas de repetirmos a mesma história, só que com protagonistas diferentes.


Enquanto escutava cada palavra, o coração apertou, porque sabia qual era a sensação. Já tinha vivido a mesma história também, mas na sua vez, a protagonista terminava sozinha. Mas ela não deixava de se perguntar: por que uma mulher linda, independente, inteligente, bem-humorada estava à sua frente chorando, mais uma vez, porque não recebeu a responsabilidade afetiva que realmente merecia?


O café gelado caiu bem naquela tarde. As duas se despediram e seguiram seus caminhos. Como é triste ver pessoas que você ama sofrer, ainda mais por amor. Ela foi embora pensando. Em alguma história, os protagonistas dão certo. A propósito, que playlist legal.

Chegou em casa e verificou o celular. Lá estava as reações da foto. Corações um em cima do outro, pequenos pontos vermelhos, que davam uma sensação boa de sentir. Mas três curtidas sempre chamavam a atenção. Lá estavam rostos bonitos, interessantes. Algumas mensagens como: que delícia, onde fica esse lugar?


E continuava a rotina: entre um momento e outro, uma foto, uma postagem. Corações um em cima do outro. Algumas conversas rápidas nas mensagens, algumas nem encerradas. Apenas palavras jogadas, vistas ou nem respondidas.


Desta vez, a música ao fundo, era “Paradise”. Com os olhos fechados, ela balançava o corpo, com um copo de gin nas mãos. Estava feliz e com os amigos. Com o celular fez um pequeno vídeo da banda e postou. Amava a música, amava dançar. Precisava de mais uma bebida e foi ao bar.


-Dessa vez eu quero um Moscow Mule.


Ao olhar para o outro lado do balcão, um rosto familiar. Não conhecido, mas familiar. Os olhos se cruzaram e se reconheceram. Lá estava em carne e osso, dono de um dos corações que suas fotos sempre recebiam. Encarou e esperou. Nada! Ele pegou a bebida, e foi para outra direção. Ela pegou a bebida e voltou para os amigos.


Chegou em casa quase quatro horas da manhã. Tirou a maquiagem, tomou um banho e se jogou na cama. Ao pegar o celular para verificar as mensagens, por um segundo, ela apenas olhou para a tela, sentindo um imenso vazio. Um vazio, que começou a se fazer presente, ao constatar, que os corações não eram afeições, apenas presenças, apenas.... marca de território?


Os mesmos olhos que encontrara mais cedo no bar, marcou presença com mais um coração no seu vídeo. Ela riu da situação ou de si mesma? Apenas riu! Protagonistas, cada vez mais solitários, cada vez mais fechados em um mundo conectado. Protagonistas, que poderiam viver tão diferentes e incríveis histórias, seja qual for seu papel. Simples, protagonistas totalmente desconectados do que realmente poderia valer a pena. Silenciou o celular e dormiu lembrando da versão acústica de “ Can’t Take My Eyes Off You”.


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